Fora de moda? Quem disse? Não é isso que constato quando trabalho com grupos de estudo e de experimentações baseados em sua obra. Ao contrário, os temas abordados em seus livros, assim como os exercícios neles apoiados, são extremamente pertinentes, atuais, e sempre terão um real poder de autotransformação.
Trabalhar com Carlos Castaneda--antropólogo que sai dos EUA para fazer sua tese de doutorado no México-- parece “fora de moda”, já que seus livros fizeram um "boom" nos anos 60 e foram lidos pelas gerações dos que hoje beiram de 60 a 70 anos. No entanto, se extrairmos as falas de Don Juan, um velho bruxo mexicano, dos livros de Castaneda, encontraremos um manual de Filosofia Tolteca, a Toltequidade, sabedoria milenar atemporal, que abrange praticamente todas as áreas da vida, e que será atual sempre.
Minha geração, embalada na contracultura, na revolução hippie, na chegada das tradições espirituais do Oriente, no uso das plantas de poder como via de percepção de outros níveis de realidade, conheceu e mergulhou no misterioso mundo de Don Juan, com fascinação e assombro. O mundo de magia se abria para nós.
Muitos de nós viveu a revolução de 1960 a partir dos livros de Castaneda: vimos a derrocada da mente racional como única maneira de apreensão da realidade, expandimos nossos limites, libertamo-nos de velhos paradigmas, e nos colocamos em novas experimentações e modos de vida.
O Caminho do Guerreiro, ou a Toltequidade, nos fornece um método de espreita de nós mesmos muito preciso, e desvenda nosso ego, naquilo que ele tem de sombra e de reativo, ao mesmo tempo que nos incentiva a sermos ousados e criadores de nossa própria vida. Fornece meios para rompermos com o processo de domesticação, termo usado por Don Juan, para designar o quanto estamos aprisionados, limitados e condicionados pela cultura. Ou seja, nos desamarra e nos põe em contato com a vida em tudo que ela pode.
Este caminho também nos ensina a romper rotinas, a sair da auto-importância, a economizar energia, a fortalecer o corpo, a purificar o espírito, a ter na morte uma conselheira, a encarar nossos inimigos internos, a abrir nosso coração, entre tantos outros ensinamentos, que nos fazem mais integrados, potentes e destemidos para encarar a realidade ordinária, em seus vários desafios, inclusive combater, fora de nós, aqueles que odeiam a vida e querem suprimir nossa liberdade: "los pinches tiranos". Etc, etc, etc...
Graças a Castaneda, a filosofia do México Antigo, a Toltequidade, emerge das profundezas nas quais precisou ficar secreta e clandestina, depois da invasão dos espanhóis. Foi através dele que Don Juan pode trazer ao Ocidente a sabedoria do México Antigo: um verdadeiro arsenal de conhecimentos e um poderoso grito de liberdade.
Passados quase 50 anos, precisamos falar sobre a importância cultural, filosófica e terapêutica da obra de Castaneda e experimentar as práticas sugeridas por Don Juan descritas em seus livros. Afinal de contas, sempre há um guerreiro em nós, e toda hora é hora para autotransmutar-se e recriar-se a si próprio. Por isso Castaneda nunca sairá de moda.